VIVA O TEATRO!

Tudo começou em 1959. A D. Mariana Viegas, professora da Escola Industrial e Comercial de Santarém, levou para as aulas umas folhinhas com versos, para que os pudéssemos ler e interpretar, quanto à sua forma e sentido, após o que começou a desafiar-nos para os dizermos do modo como achássemos que devíamos fazer, para uma ou mais pessoas. Na verdade, estava a convidar-nos a assumir o papel de “declamadores” de poesia, designação que então se aplicava, vulgarmente, aos que o faziam.

Já antes, o meu pai havia integrado um grupo de teatro da Sociedade Recreativa Operária da minha terra – o Vale de Santarém – e chegava a casa, depois dos ensaios, feliz pelo que estava a viver, transmitindo-me, sem saber, o interesse por essa “coisa” do teatro. Porém, por morte do pai da actriz que tinha o papel principal, os ensaios foram interrompidos e, depois, o projecto foi abandonado.

Mas, ainda quando criança, eu costumava assistir às representações com que, num largo da minha terra, os grupos de saltimbancos deliciavam quem assistia e, voltando a casa, montava, sem saber, o “meu teatro” debaixo da chaminé, que era alta e tinha uma cortina, que eu afastava sempre que ia repetir, para todos, lá em casa – e já eram muitos – o que ouvira dos saltimbancos.

Voltando à D. Mariana Viegas… antes do 1º de Dezembro de 1959 a senhora disse-me que me tinha indicado para ir “declamar um poema na festa que ia haver na cantina da escola, ao Canto da Cruz, que tinha de ser eu, porque tinha jeito…”. E foi assim. Lá fui para o palco, montado no meio da enorme sala, rodeado de rapazes da então “Mocidade Portuguesa”, trajados a rigor, com o longo poema na ponta da língua e o tal jeito, mais adornado e posto em ordem pelas diversas repetições e chamadas de atenção que a professora D. Madalena Tavares me havia dado, pois ela era a coordenadora da festa, que era de exaltação do sentimento patriótico!…

Acabada a função, cumprida conforme previsto e selada com palmas, só ao fim de muitos anos pisei palcos a sério, como membro de um grupo de teatro, melhor dizendo, de um grupo de amadores / amantes de teatro. Foi no Banco onde trabalhei – o Banco Borges & Irmão – onde durante dez anos integrei o Grupo de Teatro do Centro de Cultura e Desporto dos Trabalhadores. Foram anos de grandes aprendizagens, que ficaram para a vida, profissional e social.

Hoje, no chamado DIA MUNDIAL DO TEATRO, vem-me à memória esse percurso, que agradeço à vida ter vivido, com outros companheiros de trabalho e de palco, sempre a pensar, vida fora, que “um dia ainda volto ali”. No entanto, os anos correm céleres…
VIVA O TEATRO!

(Em memória das professoras Mariana Viegas – Mãe de Mário Viegas – e Madalena Tavares, que estiveram no início de tudo, quanto ao meu AMOR AO TEATRO. O meu obrigado aos encenadores Jose Gil, Alfredo Brito, Rogério Vieira).

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Espectáculo “Sem Cons(c)erto”, com base em textos de Karl Valentim e José Gomes Ferreira, na Sociedade Guilherme Coussul, em Lisboa.
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No fim de Espectáculo em Santarém, no Teatro Taborda. Excerto da peça “Viagem à Roda da Parvónia” de Guilherme de Azevedo. 1984.
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Da peça “Piquenique no campo de batalha” de Fernando Arrabal. Em Lisboa.