É sombrio, muito sombrio, o horizonte que temos pela frente. Ainda com a pandemia a causar preocupações, há uma guerra em plena Europa, cuja evolução está por saber, porém, ainda custa vislumbrar uma solução que passe pela paz.
Sombrios têm sido também estes dias estranhos, de poeiras amarelas, das areias do Norte de África, dizem-nos, e ponho-me a pensar, cá na minha, que se é assim, para nós, por uns dias, o que fará para eles, que vivem com os desertos e as secas, cada vez maiores, o ano todo…
Uma chuva intensa, continuada, persistente, era o que convinha, digo eu, logo temendo que não haja temperança da Natureza que, de tanto mal lhe fazermos, anda a avisar-nos, há muito, de que não mais suporta as nossas faltas de respeito para com ela e para com todos os outros seres que cá vivem e, está-se mesmo a ver, vai agudizar a regularidade e a intensidade das suas respostas: furacões, chuvas intensas, mas também secas e sedes globais e, por via disso, mais fomes, mais doenças, deslocações em massa e, muito provavelmente, mais guerras.
E lembro-me: entre 2 e 16 de Abril, uma Caravana pela Justiça Climática vai percorrer 400km, em Portugal, para contactar as populações, identificar locais onde a poluição e as alterações climáticas evidenciam os maus tempos que vivemos, em Portugal (como no Mundo) e nos avisam de que temos de arrepiar caminho: a Natureza tem as suas leis e estamos a passar todos os limites. Ou paramos de a agredir, ou o nosso fim, como espécie, está a caminho. Lá estarei, na Caravana, conforme puder.
Há porções de continentes com fomes devoradoras, países que já vivem para lá dos limites da sobrevivência, devido a secas, devido a doenças, esquecidos pelo mundo dito civilizado, não lhes chega o mínimo de apoios que os façam ser gente, são apenas gigantescos campos ressequidos de espectros, vagueando, a caminho do fim.
Há países a viver no degrau abaixo de zero, no que respeita a importância e respeito, a não ser que, por acaso, o seu subsolo seja fértil em algo que, ironicamente, o chamado desenvolvimento e o incremento da sociedade de consumo quer possuir, para o avanço tecnológico, sacrossanto suporte para tudo o que aos detentores de riqueza mais riqueza traz e, vai daí, não tarda estão a ser objecto de tentativas de invasão ou, no mínimo, de um golpe de estado, que os interessados nas suas riquezas naturais incentivem e até ajudem a que se realize, na mira de instalar lá o seu poder por meio de um qualquer fantoche e do seu governo tal e qual.
Além disso, o exemplo mais recente, coisas como vacinas para a pandemia, como para qualquer doença, são para quem o mundo rico primeiro quer, quer dizer, para si e os seus, ponto final.
É assim, foi sempre assim, diz-me um avisador secreto, que me abana para a verdade, sempre que dela posso estar a deixar-me afastar. Obrigado, amigo avisador interno.
Neste trio de grandes males de que padecemos, hoje, acontecendo em simultâneo, tudo consequências evidentes de não sabermos gerir a nossa casa comum – a Terra – e a nossa vida nela, não só entre humanos mas com tudo o que nos rodeia – seja ser vivo seja a própria esfera, até mesmo o material rochoso ainda inexplorado e o ar que nos envolve – nestes males se concentra a nossa incapacidade para nos governarmos, exactamente nós, os humanos, de quem se poderá / poderia esperar que o soubéssemos fazer, sendo premissa querer fazê-lo. Isso mesmo: querer fazê-lo. Mas não, estamos nesta nave à deriva, a caminho de um qualquer precipício, profundo, talvez sem regresso, mas estamos a ir em frente, para lá. Todos.
É possível pensar em tudo isto e querer um mundo melhor, que nasça da nossa vontade, em vez de esperarmos as benesses dos “cortejos de oferendas” que os exploradores costumam dispensar aos pobres, de todos os pontos e matizes, nas alturas das crises de que eles próprios são os obreiros e beneficiados? É, sim senhor!… O primeiro passo é querer saber a verdade e depois deixar de estarmos presos ao lado A, ou B, ou C, conforme as conveniências da nossa parte.
Nesta coisa da guerra na Ucrânia, pela invasão da Rússia, continuam os argumentos contra e a favor (como é possível???) da Rússia, como antes houve os argumentos contra e a favor (como foi, e continua a ser possível???) dos EUA e aliados (ai Portugal, foste nisso induzido e jogado no tabuleiro mentiroso das tão propaladas armas de destruição em massa, que levaram à carnificina e à destruição do Iraque… e mais ainda) e, ao fim e ao cabo, cada um destes lados só quer fazer, sempre, o mesmo: invadir, para destruir, para dominar, para sacar o que lá houver, com tudo o que isso tem de consequências, como se estivéssemos ainda no tempo das hordas mais antigas da Humanidade, quando tudo era varrido à passagem, antes ainda da sedentarização dos seres humanos.
Parecendo que estamos muito longe, a verdade é que continuamos muito perto desses tempos. Até quando?…
Manuel João Sá.