TUDO COMEÇOU COM A INTRODUÇÃO DO EURO
Em 1998, um antigo colaborador no departamento de formação que eu dirigia, na banca, foi contactado para preparar um programa destinado a facilitar a utilização da nova moeda europeia, o Euro, pelas pessoas de mais idade. Não sendo possível ao meu amigo entrar nessa colaboração, ele acabou por sugerir que me contactassem, o que veio a acontecer.
A organização que pretendia realizar o programa era a Câmara Municipal de Lisboa. A sua pretensão inseria-se numa medida tomada na União Europeia, que decidira promover o conhecimento da nova moeda antes do seu lançamento (Janº 2002) e a mais bem conseguida utilização na fase de transição.
A União punha particular enfoque nos grupos que apresentavam mais dificuldades, à partida, como os mais idosos, os analfabetos, os cegos, surdo-mudos e outras situações específicas. A outros níveis, as organizações tratariam de actuar a tempo para que a transição fosse bem conseguida. Estavam nestes casos as instituições financeiras e as empresas e organizações em geral, públicas e privadas.
Na sequência do contacto da Câmara, apresentei proposta de plano que visava habilitar formadores e dinamizadores locais de instituições de solidariedade social do distrito de Lisboa para, em centros de dia, lares e outras organizações de pessoas de mais idade, prepararem os utentes para a entrada do Euro.
A preparação do plano, em todos os aspectos, contou com a colaboração de pessoas idosas. Foram feitas reuniões com pessoas de mais idade e de outros grupos específicos, como analfabetos e com particulares dificuldades económicas, em bairros sociais e populações étnicas de bairros sociais da região de Lisboa.
Por essa via pretendia-se identificar as dificuldades que iríamos encontrar e como os formadores locais e dinamizadores deveriam proceder, do ponto de vista relacional e o que deviam saber (quanto à nova moeda e em termos pedagógicos) para utilizar os meios de fazer aprender como utilizar a nova moeda.
O modelo-base que pusemos de pé para que os destinatários aprendessem sobre a nova moeda consistiu na simulação de um mercado, ou seja, após uma fase inicial destinada a conhecer notas, moedas e suas características, os participantes eram convidados a comprar produtos: fazia-se uma simulação da compra/venda de produtos, utilizando a nova moeda – cópias.
Este plano acabou por ter expressão prática em muitas organizações para idosos do distrito de Lisboa e, a partir da experiência alcançada, alargou-se a outras zonas do País, dirigindo-se não só a pessoas idosas. De facto, envolveu formadores locais e animadores em centros de dia, lares e outras organizações similares, que depois fizeram sessões locais para os utentes, como também envolveu associações locais em bairros e freguesias.
Todo este plano, lançado pela União Europeia, foi acompanhado e avaliado pela própria União, em reuniões com representantes das equipas dos diversos países aderentes, que tiveram lugar em Bruxelas. Antes da realização prática de toda esta acção, decorreu a apresentação dos planos e modelos de aprendizagem preparados por cada país, que decorreu também em Bruxelas. Aí houve oportunidade de conhecer as soluções que tinham sido encontradas por cada país para fazer aprender, por aquelas populações (mais idosos, analfabetos, etc.) a utilização das novas notas e moedas.
Tratou-se de uma experiência de grande valor e de muito enriquecimento em termos pessoais, tendo permitido conhecer realidades diferenciadas, embora com aspectos comuns a que era necessário responder.
Por outro lado, foi possível tomar contacto com pessoas de organizações que, noutros países da Europa, já trabalham há muitos anos para pessoas de mais idade, sendo algumas delas, exactamente, organizações de pessoas de mais idade. Uma dessas organizações é a 50&Piú (Mais de Cinquenta), italiana, uma referência neste domínio, assim como a FATEC – Federação de Associações de Gente Grande de Catalunha – Espanha.
Na minha actividade posterior tive outros contactos com pessoas e organizações que fazem trabalho para pessoas de mais idade, assim como me solicitaram intervenção na preparação de colaboradores para as situações de pré-reforma. Em parte, os objectivos declarados na apresentação deste meu blog 60emais estão relacionados com a experiência que vivi e com a aprendizagem que fiz desta dimensão da vida.
Por outro lado, tais objectivos estão directamente relacionados com a minha formação académica (sociologia) e com uma visão social e política que faz apelo aos direitos e deveres de cidadania, a qual me orienta para uma continuada e interessada participação cívica activa.
É pois neste quadro que, em futuras páginas, darei seguimento ao projecto 60emais.
Manuel João Sá