VÍTOR ALVES, OBRIGADO!

Vítor Alves, Capitão de Abril
Naqueles dias primeiros, eu olhava para si e tinha vontade de tratá-lo por tu. Não sei porquê, parecia-me que Você era uma pessoa com quem eu pudesse comunicar assim, próximo, em conversa… tranquila. Isso, tranquila. Eu havia estado na tropa, fora miliciano, ainda não havia despido a farda e, sobretudo, ainda não me havia despido do invólucro horrível que a condição de ter tido farda trouxera à minha vida, e havia deixado na minha mente, sentia-o então, factos, evidências, memórias que não sabia que iam durar para sempre.

Eu via-o e ouvia-o na televisão, na rádio, nos jornais, um dia até estive muito perto de si, e o que mais puxava a minha atenção era a sensação de sabedoria, de calma, no bulício dos dias, onde todos diziam coisas e queriam coisas na avidez de tudo querer, no meio de uma impreparação nunca ultrapassada, porque era proibido tudo antes, e quem poderia ter liderado com vista ao futuro não queria liderar nada, apenas esperava, esperava, talvez por um qualquer MOVIMENTO DOS CAPITÃES ou outra aparente impossibilidade desse tipo.

Você esteve no centro de tudo, desde o princípio, liderou com a cabeça no comando, com a razão (não foi herói nem vilão, foi gente com cabeça-tronco-e-membros) e quando as coisas estiveram complicadas Você esteve novamente sereno, sóbrio, dedicado, educado, tranquilo.

Depois, Você, como o Salgueiro Maia, como o Melo Antunes, foi saindo, saindo. Agora víamo-lo nas cerimónias, de cravo vermelho na lapela, sereno, sempre um bocadinho sorridente, mas sóbrio, com ar tranquilo para tudo e todos, com ar amigo. Era assim que eu o via, como Amigo, e sabia-me bem vê-lo. Via-se que dava segurança a quem o olhasse. Um olhar verdadeiro. Uma postura sem artifícios, sem jactâncias, sem armas na mão e… na alma. As suas armas estavam dentro da sua cabeça e, decerto, no seu coração. 

Você, Vítor Alves, desapareceu cedo demais. Desapareceu cedo demais do País que precisava de si, cedo demais da actividade que… era importante ter tido. Porém, ninguém tinha o direito de meter-se na sua vida, na sua intenção, no seu projecto. Também acho.

Você, Vítor Alves, desapareceu cedo demais, da vida. É pena. Mas que podemos nós contra o irremediável, quando o irremediável já nos atira para o lado de lá da vida?

Um abraço. E MUITO OBRIGADO!

Manuel