Andaria eu no segundo ano da Escola Industrial e Comercial de Santarém quando o meu pai me falou do que sabia sobre os homens que iam para a Terra Nova, em navios, todos os anos, para a pesca do bacalhau. Falou-me do que isso seria, dos perigos que corriam, dos barquitos, chamados dóris, em que tinham de andar, na faina, longe do navio, para lançarem ao mar as linhas carregadas de anzóis com isco, e, longas horas depois, voltarem ao navio, carregados, se possível, de bacalhaus; que assim passariam seis meses, até voltarem a Portugal, às suas famílias, às suas terras, porém alguns lá encontrariam a morte, com doenças ou naufrágios; que alguns meses depois voltariam a partir para nova faina e que, nesse ir e vir, passariam anos, se a sorte os poupasse.
E falou-me também o meu pai do escritor Bernardo Santareno, que tinha estado em algumas dessas campanhas, como médico que era, para socorro aos pescadores, e que teria escrito livros que disso falavam, livros que estavam proibidos, pois neles haver “coisas” que alguns do poder não queriam que fossem faladas…
Mais tarde, quando pude, acompanhei algo da produção literária de Santareno, inclusive assisti à estreia da peça “Português, Escritor, 45 anos de idade”, no Teatro Maria Matos, em 1974, logo após o 25 de Abril, finalmente éramos livres. Depois, foi então a descoberta, que continua, sempre que a ele volto.
Hoje fui surpreendido por um vídeo que desconhecia e que aqui partilho. Carlos Oliveira é responsável por isso, e ainda bem. Agradeço, Carlos. É exactamente sobre a faina da pesca do bacalhau, nos longínquos e perigosos mares gelados do Norte, no ano de 1967. Um video sobre esses heróis portugueses, que partiam para uma vida de grande dureza, sujeitos aos tortuosos caprichos da sorte.
Como gostaria o meu pai de ver este vídeo, que vivamente recomendo…
Manuel João Sá